No reality show A Fazenda 17, da Record TV, a participante Carol Lekker desencadeou polêmica ao relatar, em tom de “brincadeira”, uma ameaça ao enteado: segundo ela, teria dito que pegaria uma tesoura “pra cortar” o órgão sexual da criança.
A declaração gerou reação imediata da vereadora Ana Carolina Oliveira (Podemos-SP), mãe de Isabella Nardoni, que foi assassinada aos 5 anos em 2008. Ela considerou a fala de Carol “assustadora” e pediu a expulsão da participante do programa.
A repercussão expõe um cruzamento delicado: o show de entretenimento abre espaço para expressões que tocam em violência contra crianças – justamente quando os dados nacionais mostram que esse tipo de agressão permanece como grave problema social.
Dados alarmantes sobre violência contra crianças no Brasil
Um estudo sistemático que abrangeu publicações brasileiras de 2018 a 2022 aponta que meninas são particularmente vulneráveis à violência, especialmente do tipo sexual.
Em um levantamento no estado do Espírito Santo, a taxa de violência sexual contra crianças foi de 41,8%, sendo mais prevalente em meninas entre 3 e 9 anos e com agressor conhecido, geralmente no domicílio.
Conforme a agência oficial, “quase 200 crianças e adolescentes são agredidos diariamente no Brasil”, ainda que muitos casos não sejam oficialmente registrados — o que indica que os números reais podem ser bem maiores.
Na região da América Latina e Caribe, em que o Brasil está inserido, cerca de 7 em cada 100 crianças vivem em países onde ainda é permitido o castigo corporal em casa.
O país lançou recentemente sua primeira estratégia nacional para proteção de crianças contra violência, crime e drogas, o que evidencia que há demanda para ações mais concretas.
Por que o caso da Fazenda se torna significativo
Espaço público + normalização de violência: Quando uma pessoa famosa, em rede nacional, faz referência a ameaça de violência contra criança — ainda que em tom de “brincadeira” — cria-se um risco de banalização desse tipo de conduta.
Contexto simbólico: A reação de Ana Carolina Oliveira traz à tona a memória de um crime brutal contra criança, o de sua filha Isabella, o que amplia o significado da indignação e dá voz à parte mais vulnerável da sociedade.
Cobertura midiática de casos extremos: A visibilidade alta do programa transforma o episódio em pauta de debate social sobre limites éticos da TV, responsabilidade dos veículos e proteção infantil.
Conexão com estatísticas: O Brasil ainda enfrenta taxas elevadas de violência contra crianças — a fala da participante torna-se, portanto, não apenas uma gafe de reality, mas um sintoma de desafios reais que o país enfrenta em termos de cultura de proteção e punição.