Gonzalo Lamego é um jovem de 21 anos, estudante de canto lírico, com um sorriso cativante, e um jeito quase tímido. Saturna é extrovertida, assertiva, determinada. Em comum, eles têm principalmente aquele sorriso (o cativante) e a confiança na própria arte. “Eu sou um artista”, diz Gonzalo ‘Saturna Queen’ Lamego.
Saturna aconteceu na pandemia, quando Gonzalo disse que parou para ‘brincar’ mais com maquiagem, que se diz fã desde a infância. “Aos 4 anos, eu já roubava a maquiagem da minha mãe’. Durante o isolamento social, Gonzalo passou a se montar – expressão usada para falar do processo de transformação – maquiagem, peruca, maquiagem, salto, maquiagem, roupa, maquiagem, espartilho, maquiagem etc. Nascia assim Saturna Queen, que desde então, já participou de algumas apresentações no Rio Grande do Sul, sempre em grupo.
Em sua primeira performance solo, que aconteceu no Festival Internacional FEMUSC, dia 20 de janeiro, Saturna apresentou uma ária da ópera ‘Dido e Enéas’, ‘Lamento de Dido’, do compositor inglês Henry Purcell (1659/1695). Acompanhado por Lucas Casagrande, no violoncelo barroco, e Guido Nazar, no cravo, Saturna deu um show e foi aplaudida de pé. “Estou extremamente feliz pelo FEMUSC ter aberto as portas pra mim como artista e drag queen e super extasiado com essa primeira performance”.
Até o final do FEMUSC, dia 29 de janeiro, Saturna faz mais três apresentações, antes de seu ‘grand finale’ com ‘Bodas de Fígaro’, ópera-bufa em quatro atos composta por Mozart, um dos espetáculos mais aguardados do evento deste ano.
Nas ‘Bodas de Fígaro’, Saturna e Gonzalo atuarão juntos pela primeira vez. Saturna, toda montada com a estética própria da ópera, no primeiro ato. Gonzalo, de smoking, no segundo. “Uma oportunidade incrível pra eu brincar com essas ideias e contrastes de gênero, e que eu me sinto tão confortável”.
Segundo Saturna, os papéis travestidos no Brasil são muito comuns, mas uma drag queen em uma ópera, até onde ela tem conhecimento, é inédito. Para o maestro Alex Klein, um dos organizadores do FEMUSC, a ideia é mesmo revolucionar padrões. “Eu vou viver no mesmo ato artístico o melhor dos meus dois mundos”, diz Gonzalo.
Feliz com seus ‘dois eus’, o bageense Gonzalo gosta de ser Gonzalo, gosta de ser Saturna e explica o que é a arte drag. “A arte drag é uma arte pra todo mundo, não apenas homens e homens gays podem fazer, mulheres podem fazer, na arte drag não existe apenas a representação feminina, é uma arte que a gente experiencia”.
Para os interessados, Bodas de Fígaro estará no Grande Teatro do Scar, em Jaraguá do Sul, no dia 28 de janeiro. A ópera faz parte da série Grandes Concertos, espetáculo que acontece diariamente às 20h30. Quem não puder assistir ao vivo, o espetáculo também estará disponível no formato virtual, por meio do canal do Youtube do FEMUSC.
Os protocolos sanitários são observados com rigidez, e o público só entra no teatro depois da medição da temperatura, com uso de máscara obrigatória. O álcool em gel está disponível por todo o Scar, o distanciamento social é incentivado e todos os espetáculos têm capacidade máxima limitada para evitar aglomeração.
Os ingressos de ‘As Bodas de Fígaro’ estão disponíveis na bilheteria do teatro e devem ser retirados a partir das 8h do dia 26 de janeiro. Para mais informações, acesse: www.femusc.com.br
Bodas de Fígaro
Escrita entre 1785 e 1786 por Wolfgang Amadeus Mozart, Bodas de Fígaro foi apresentada pela primeira vez em maio de 1786 sob regência do próprio compositor. A história acontece em algum lugar próximo à Sevilha e é uma continuação da vida de Fígaro, iniciada em O Barbeiro de Sevilha.
Foi a partir dessa apresentação, que Mozart começou a ter problemas com sua reputação. A ópera satiriza costumes da nobreza da época.
Na performance do FEMUSC, participam a soprana Raquel Winnica Young, o barítono Fred Paiva e a Orquestra Clássica do FEMUSC sob regência do maestro Ricardo Kanji.