Por mais Marias e Clarices na política do Brasil

Por Adelaide Oliveira

Todos os dias (principalmente em época de campanha eleitoral) ouvimos sobre a importância da presença das mulheres na política, em “empoderamento feminino”, “lugar de fala” e vários outros argumentos retóricos usados na construção de um discurso fácil de dizer e politicamente bastante correto.

Mas não basta estar na política. É preciso que cada uma de nós entenda o que significa ser mulher e estar na política. Porque mulheres têm características únicas de entrega, de visão cuidadosa, de esperança e, acima de tudo de futuro.

Política é a construção de um futuro melhor. Mais seguro, mais viável e mais feliz. A quem cabe gestar? Nutrir? Onde a vida se forma? Na mulher.

O futuro vem da mulher. O futuro nasce de nós e é uma força presente em cada menina que sonha com um futuro cheio de conquistas. Uma força que precisa ser valorizada e reconhecida.
Na política ainda somos minoria, e talvez por isso a credibilidade dos políticos neste país seja tão pouca.

Penso na menina que fui e na mulher que sou. O caminho até aqui foi longo, difícil e maravilhoso; e muitas mulheres me inspiraram.

Temos uma história de mulheres inspiradoras a nos mostrar que é possível aliar delicadeza e firmeza.
No Brasil, duas mulheres me agradam especialmente: Zilda Arns e Ruth Cardoso.
Desde adolescente observava de longe o trabalho de Zilda (médica e fundadora da Pastoral da Criança), por sua doação e bondade, calcando suas ações em dados e evidências de médica que era, mas que conseguia atingir o público através de seu lado missionário. Católica (irmã de Dom Paulo Evaristo Arns), ela sempre valorizou a ciência e se comunicava através dos ensinamentos do Evangelho. Assim, ajudou a tirar milhares de crianças da desnutrição e salvou, com certeza, milhares de vidas.

Ruth Cardoso (ex-primeira-dama, antropóloga e professora universitária), por ter sido líder feminina relevante em ações sociais sem ficar sombreada por seu marido. Conseguiu seu próprio espaço por sua capacidade e liderança.
Na política mundial, eu gosto especialmente de Margaret Thatcher. Primeira mulher a ocupar a posição de primeira-ministra no Reino Unido (entre 1979 e 1990). Margaret tinha uma habilidade única de negociar, sendo mulher num mundo machista, teve que impor suas posições com dureza a ponto de ser chamada de dama de ferro (um jornalista soviético colocou o apelido e assim ela ficou conhecida no mundo todo).
Depois, vem Malala (a menina paquistanesa símbolo da luta pelo acesso feminino à educação e ganhadora do Nobel da Paz), que me conquistou por sua resiliência. Jamais desistiu de lutar pelo que acreditava, e num ambiente absolutamente hostil.

Política é sim coisa de mulher. Estamos em desvantagem, e não é só em número, em valores também, pois dados do TSE indicam que as mulheres têm metade do patrimônio dos candidatos homens. Num sistema que privilegia homens e dinheiro, o desafio é enorme.

Mas há (sempre há) esperança: na ONU Mulher, por exemplo, há uma diretriz especifica sobre a garantia da participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública e adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis. No Brasil, muitas iniciativas de apoio à participação feminina na política. Seminários, associações, sites e ONGS lutam para que a gente ocupe esse espaço.

E é por isso, por esse espaço existir e precisar ser ocupado; pela vontade de mudar as coisas, de criar um futuro melhor e cheio de oportunidades é que estamos aqui, aceitando o desafio e encarando candidaturas, campanhas e mandatos.

Mulheres, o Brasil precisa da gente.

Quem é a Adelaide?
Nasci e me criei na Zona Leste de São Paulo, conheci e vivi a vida simples e sacrificada de quem mora na periferia.
Formei-me em Letras pela Universidade Braz Cubas de Mogi das Cruzes, fui secretária executiva do Grupo Votorantim, dos filhos do Dr. Antonio Ermírio de Moraes, casei-me nova e tive uma Filha – Fernanda – e divorciei quando ela tinha 4 anos.

Trabalhei em empresas dos 16 aos 36 anos, quando decidi ser corretora de imóveis e, desde então vivi o desafio de ser autônoma como corretora de imóveis.
Já na minha juventude, fui atraída pela politica e me engajei nas lutas pelas Diretas Já.

Vivi alguns desafios, além dos normais de criar uma filha praticamente sozinha: Em 2003 tive câncer de mama e a luta entre cirurgias, quimioterapia e radioterapia foram de 2 anos. Conheci meu atual marido em final de 2001 e ele foi meu companheiro neste momento difícil.

Em 2007, já como gerente de vendas, enfrentei uma cirurgia de prótese de quadril, o que não me impediu de ser campeã de vendas do segmento online, mesmo trabalhando boa parte do ano de cadeira de rodas.

Em 2014 entrei no Vem Pra Rua onde fui coordenadora das cidades, líder e porta voz, contribuindo muito ativamente para as manifestações pelo impeachment da Dilma, em favor da Lava Jato e contra a corrupção.

Em 2020 saí do Vem Pra Rua para integrar o MBL e fui candidata a vice-prefeita com Arthur do Val, quando obtivemos praticamente 10% dos votos – foram 522 mil votos.
No MBL contribui com a Academia MBL, da qual tenho muito orgulho de ter participado e hoje, em meio a mais um desafio – sofri um acidente que me colocou na cadeira de rodas novamente – estou lançando minha pré-candidaturaa Deputada Federal pelo Podemos SP.

Me preparei para este desafio, estudando no RenovaBR, onde fui aprovada com 92% de aproveitamento, que me deixa orgulhosa e grata pela oportunidade.

Os próximos capítulos de minha história eu conto em Brasília, se Deus quiser.