Texto: Luciano Suassuna
Foto: Augusto Fernandes
O encontro com a ancestralidade tem a forma de uma árvore que cresce ao contrário. As raízes se voltam para fora, o tronco cresce para o passado e a copa se enche de origens. Quanto mais frondosa a copa, maiores serão as raízes que nos levarão adiante. Esse é um trabalho em que as raízes estão expostas. Em seu primeiro trabalho solo, o cantor, compositor e violonista paulistano Pedro Frossard foi em busca do tempo, da natureza e das conexões familiares, esses marcadores da ancestralidade.
Encontrou-os olhando para si mesmo, crescendo internamente, antes de apresentar folhas e frutos, agora materializados na forma de canções que valem a descoberta. Quando tantas coisas parecem frágeis, voláteis e incertas, Pedro encontrou o que é sólido, sem deixar de ser simbólico. Trouxe para o trabalho as irremovíveis rochas do Parque da Serra da Capivara, berço figurativo dos povos mais antigos do nosso Continente. Somou-as à imagética popular, ilustrando o trabalho com as gravuras de J. Borges, cedidas pelo artista como parceria na capa de Abismo.
Parcerias e amizades são ancestrais na história da cultura. Mas a procura de Pedro vai além do porto seguro do passado. O artista acalma e provoca, esfria e incandeia, vai ao sertão e à metrópole, busca o interior e o litoral, pede paz e vai à luta. Questiona, mais do que responde.
No espaço familiar, a ancestralidade primeira está na relação entre os avós e os netos. E essa relação costuma se solidificar sobre inversões emblemáticas. Novidade, para os netos, é conhecer o passado dos avós. Futuro, para os avós, é viver a memória da infância, enquanto participam da formação dos filhos de seus filhos. É assim que famílias e gerações tecem os fios que as ligam de forma umbilical. É assim, repleto das raízes familiares, que Pedro Frossard preenche o Abismo, e empodera-se com sede de reencontrar-se em Avô Cactus, recuperando na ancestralidade a fonte de inspiração para criar e a força da história para seguir adiante.
Totem
O álbum Totem, com lançamento programado para o segundo semestre de 2023, contará com uma série de lançamentos de novos singles, como Caninos e Uníssono (produzidos por Renato Galozzi), além de Into the Montain, Dança dos Urubus e Lua de Moreré (produzidos por Luciano Sallun).
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