Lollapalooza BR 2022: da viagem ao tempo à transgressão musical

Que o Lollapalooza 2022 foi marcado por questões políticas o mundo já sabe. Que ele nos trouxe a paz de ir a um festival cheio de aglomeração, também. Mas, definitivamente, é a música que assina um festival desse tamanho e nós podemos provar.

Quando chegou ao Brasil, em 2012, o festival era um celeiro do Underground, destacando bandas que futuramente alcançariam o Mainstream, como Capital Cities, Bastille, Kids, MGMT, onde dividiam o mesmo ‘tempo de palco’ com os headliners, em uma criteriosa e promissora curadoria musical.

Mas, parece que aos poucos (e devido ao crescimento do festival), a necessidade de agregar o Mainstream surgiu e uma nova gama de possibilidades também, em um evento que nunca esqueceu sua essência, mas está sempre em evolução. Prova disso é o aumento de DJs se apresentando no Lollapalooza, a cada edição. Alok entregou um show de tecnologia e trouxe, na bagagem, seus parceiros da música eletrônica. E é incrível como o brasileiro tem valorizado a música eletrônica desde a ascensão de Alok. O Palco Doritos ficou pequeno para tanto artista eletrônico talentoso. Aqui destacamos: Kaytranada, Cat Dealers e Alesso, com apresentações delirantes. Glória Groove também se apresentou no palco e, talvez, tenha roubado público do show que acontecia no palco principal. Acontece! A dama de vermelho, camisa 13, segue roubando os holofotes por onde passa.

Por falar em Glória, seria pecado não citar Pabllo Vittar, precursora do atual movimento ‘drag musical’ da nossa indústria. Pabllo deixou no palco a sua melhor apresentação até hoje e, ainda, nos orgulhou ao segurar a bandeira de Lula e o “Fora Bolsonaro” – que posteriormente a colocaram nos tabloides por conta do enrosco entre partido de Bolsonaro e o TSE, em um episódio nítido de censura. A ela se juntaram Marina Sena, Djonga e a banda Fresno, que mesmo com a decisão da Justiça compraram briga e arrancaram da platéia coros contra o atual Presidente.

Destacar Miley Cyrus nessa edição não é surpresa, é condição! Com um show impecável, Miley provou ao público brasileiro que entende muito de Rock, mesmo sendo uma estrela mundialmente conhecida no Pop. E Anitta que o diga: a número 1 do mundo não só participou da apresentação – cantando o hit “Boys Don’t Cry”, como assistiu atenta ao show da eterna Hannah Montana, ao lado de Bruna Marquezine. Emocionada ao falar sobre a morte precoce de seu amigo, o baterista do Foo Fighters – que faria show no domingo, Miley ainda agradeceu a força que o artista lhe deu após um quase acidente aéreo, que a impossibilitou de se apresentar no Paraguai.

A morte, por overdose, de Taylor Hawkins, encontrado em um hotel em Bogotá (Colômbia), ocasionou o cancelamento do show do Foo Fighters, que encerraria o festival do Brasil. O show foi substituido por Planet Hemp, Emicida e convidados. E novamente a curadoria musical fez toda a diferença: após um final de semana de censura, o festival entrega sua melhor face. Um verdadeiro deboche ao autoritarismo e repressão cantados nas frequentes críticas sociais, ideológicas e globais das músicas desses artistas.

Em tempo: Talvez, Lollapalooza 2022 seja o mais próximo que poderíamos chegar de Woodstock, nesta década. Teria sido icônico, se não fosse tão trágico.

E é por isso que nos vemos em 2023, Lolla. 😉