Lula e a “labirintite”: o que realmente significa esse diagnóstico?

Você já ouviu alguém dizer que está com labirintite, certo? Foi justamente esse o diagnóstico que apareceu no boletim médico do presidente do Brasil. Mas será que é isso mesmo?

Tontura repentina, sensação de desequilíbrio, mal-estar. Esses sintomas levaram o presidente Lula a ser diagnosticado com “labirintite” ontem (26). Mas afinal, o que isso realmente significa? E por que os médicos ainda usam esse termo?

“O uso da palavra ‘labirintite’ é comum justamente por ser mais familiar à população. Mas, na prática, é um rótulo impreciso, pois existem muitas doenças que podem causar vertigem”, explica o neurologista Dr. Saulo Nader, referência nacional em tonturas e distúrbios do equilíbrio.

 

Dr. Saulo Nader (Foto: Divulgação)

Segundo o médico, o termo pode simplificar a comunicação, mas não substitui uma avaliação neurológica aprofundada. “É importante lembrar que a vertigem é um sintoma, não um diagnóstico definitivo. Por trás dela podem estar desde alterações benignas até condições mais complexas que exigem investigação criteriosa”, completa.

O episódio reacende o debate sobre a importância da precisão nos boletins médicos — especialmente quando envolvem figuras públicas e impactam a percepção da população sobre sintomas neurológicos.
Segundo Nader, nem toda tontura é labirintite — e o diagnóstico correto é essencial para um tratamento eficaz.

“Vertigem é uma percepção anormal de movimento, como se tudo ao redor estivesse girando ou balançando”, explica Dr. Saulo.
Segundo o neurologista, existem algumas possibilidades que podem estar relacionadas ao novo episódio.

Uma delas é a consequência da queda de Lula, em outubro de 2024. Na ocasião, o presidente bateu a cabeça forte e teve uma lesão no rosto.

“Sabemos que pancadas na cabeça podem soltar os cristais do labirinto, órgãos que são nossos sensores de movimento, e isso pode gerar crises de vertigem de repetição. Essa condição é chamada de Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB). Apesar de ser mais comum que os sintomas surjam pouco tempo após a pancada, existem casos em que os cristais se soltam tardiamente, o que poderia explicar o quadro atual. E seria a melhor das hipóteses, pois o problema é tratado por meio das manobras sem uso de remédios e a recuperação será rápida”, ressalta Dr. Saulo.

Segunda possibilidade, seria a vertigem ser consequência de um novo sangramento (o que seria pouco provável, pois não há outros sintomas associados). Lembrar que Lula teve um sangramento cerebral diagnosticado em dezembro de 2024, como consequência à queda.

Já a terceira possibilidade é que essa vertigem não tem realmente relação alguma com a queda de outubro e o sangramento de dezembro, pois 30% da população pode ter tontura em algum momento da vida e no caso do Lula, pode ter chegado a sua vez.

Uso inadequado do termo “labirintite”:

O especialista destaca que o diagnóstico divulgado como “labirintite” é genérico, que toda população conhece, mas que pode significar muitas doenças diferentes.

“A palavra virou um rótulo popular, mas esconde uma variedade enorme de diagnósticos. Nem sempre a vertigem tem origem no labirinto, por exemplo. Pode ser causada por enxaqueca vestibular, neurite vestibular (como a que Dilma Roussef teve), doenças neurológicas ou até cardiovasculares”, explica.

O neurologista reforça que um diagnóstico preciso é essencial. “O mais importante é entender que a vertigem é um sintoma, não um diagnóstico. E tratar sem saber a causa pode atrasar a recuperação e mascarar algo mais sério.”

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